quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SAUDADE DO QUE VIRÁ


As melhores memórias são sempre afetivas. Têm cor. Tem cheiro. Tem sentimento. Enquanto escrevo deve ter um cisco no meu olho. Ele insiste em lacrimejar! As cenas passam rápido na minha lembrança.
O amor é essa condição surpreendente de viver. Consigo listar sem dificuldades muitos erros cometidos. Exigi mais que devia tantas vezes. Irritei-me outras além da conta. Cobrei o que você ainda não estava pronta para oferecer. Desperdicei momentos singelos e preciosos da vida com a minha ansiedade e expectativas.
Gostaria de protegê-la de tudo o que vejo ameaçá-la pela vida a fora, mas faria um mal maior. Roubaria de você o que é mais intenso na vida: a possibilidade vertiginosa de escolher e construir o destino. Foi assim que Deus nos criou. Isso gera algumas dores, mas faz de nós gente de verdade.



Amar é tocar com a intensidade de quem o faz pela última vez. Quem ama embalsama em cada toque.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

DELICADEZA



O que do humano mais esperamos não passa de divinização cruel. O que chamamos de humanização, frequentemente, nada mais é que a idealização narcísea do outro. Bondade, paciência, justiça, polidez, bom senso, honestidade, equidade, pureza e todas as demais virtudes. Tudo muito lindo no meu discurso, mas um pesadelo nos ouvidos e na consciência dos que me rodeiam.

Imponho ao outro o que em mim imagino poderia ser perfeito. Exijo e puno todos a minha volta na proporção em que preciso esconder de mim mesmo a impossibilidade amarga de ser tão bom. O divino que me tortura é abrandado na medida em que culpabilizo o mundo. A gigante e divina moral me esmagaria se eu não o fizesse aos demais. Eis a origem dos conflitos.