Texto de Marcelo Viola Rezende
Filho querido!!!!
Há momentos em que me percebo sedento de luzes, com fome de abraços, carente de cores. Nessas centelhas de instantes imprecisos, sinto-me poeta, artista, violinista. Atraído pela beleza, rasgo as roupas da formalidade e cubro-me com as capas dos românticos. Subo em palcos imaginários, convivo com a boemia, declamo versos geniais, sento em botecos mal iluminados e rio sem motivo.
Nos instantes em que preciso virar a página da tristeza, lavo-me das cinzas com silêncio, troco o pranto por um sorriso gratuito e faço uma festa diferente. Assim, sem mais nem menos, passo a ver prados verdes por entre frestas estreitas de janelas fechadas, ouço trovões num céu nu de nuvens e percebo o ar salitroso do mar longínquo.
Afogo a saudade num azul áspero, pinto as fantasias de amarelo e consigo ressuscitar fantasias infantis. Viro alquimista. Aprendo a combinar cores e afugento espíritos amuados. Todo enfado foge. Meu mundo se aquarela: as amizades cobrem-se de fosforescência, as lealdades ganham cor de palha e a paz branqueja ódios antigos.
Deixo que o numinoso me enfeitice porque me sinto de outro mundo. Nasci para a eternidade. Não me contento em viver, tenho que transcender, criar, transbordar, romper. Recuso arrastar-me; não gosto de cascas, preciso quebrar os caixotes que me prendem. Sinto-me alazão, águia, sei lá o que; careço de espaços. Atrofio dentro de gaiolas; as cercas me angustiam; as garrafas me asfixiam. Rasgo mapas, corto as cordas das âncoras, não aceito cabrestos.
Viver o medo da surpresa me seduz. Quero o incontrolado, coexistir sem precisar ter domínio, lançar-me na direção do imponderado sem jamais imaginar-me um timoneiro.
Mesmo que o futuro chegue brusco, que o iminente desperte numa piscada, que a morte se antecipe, continuarei brigando. Revoltado com a falta de viço, com a inconveniência da tristeza, gritarei: nasci para viver!
Filho querido!!!!
Há momentos em que me percebo sedento de luzes, com fome de abraços, carente de cores. Nessas centelhas de instantes imprecisos, sinto-me poeta, artista, violinista. Atraído pela beleza, rasgo as roupas da formalidade e cubro-me com as capas dos românticos. Subo em palcos imaginários, convivo com a boemia, declamo versos geniais, sento em botecos mal iluminados e rio sem motivo.
Nos instantes em que preciso virar a página da tristeza, lavo-me das cinzas com silêncio, troco o pranto por um sorriso gratuito e faço uma festa diferente. Assim, sem mais nem menos, passo a ver prados verdes por entre frestas estreitas de janelas fechadas, ouço trovões num céu nu de nuvens e percebo o ar salitroso do mar longínquo.
Afogo a saudade num azul áspero, pinto as fantasias de amarelo e consigo ressuscitar fantasias infantis. Viro alquimista. Aprendo a combinar cores e afugento espíritos amuados. Todo enfado foge. Meu mundo se aquarela: as amizades cobrem-se de fosforescência, as lealdades ganham cor de palha e a paz branqueja ódios antigos.
Deixo que o numinoso me enfeitice porque me sinto de outro mundo. Nasci para a eternidade. Não me contento em viver, tenho que transcender, criar, transbordar, romper. Recuso arrastar-me; não gosto de cascas, preciso quebrar os caixotes que me prendem. Sinto-me alazão, águia, sei lá o que; careço de espaços. Atrofio dentro de gaiolas; as cercas me angustiam; as garrafas me asfixiam. Rasgo mapas, corto as cordas das âncoras, não aceito cabrestos.
Viver o medo da surpresa me seduz. Quero o incontrolado, coexistir sem precisar ter domínio, lançar-me na direção do imponderado sem jamais imaginar-me um timoneiro.
Mesmo que o futuro chegue brusco, que o iminente desperte numa piscada, que a morte se antecipe, continuarei brigando. Revoltado com a falta de viço, com a inconveniência da tristeza, gritarei: nasci para viver!