Já se perguntou por que fracionamos o tempo? Por que o dividimos em pedaços de tempo? Milênio, década, ano, mês, semana ou dia? Veja. Não só contamos o tempo: quantos anos ou meses? Além de contarmos o tempo, nós o dividimos em pedaços com nome. Pedaços que significam. Mas o tempo por si só é indiferente ao nosso calendário. O tempo passa sempre e irresistivelmente. Não interessa se mudou o mês, se acabou a semana, ou se inicia um novo ano. Por que, então, organizamos o nosso modo de lidar com o tempo dividindo-o em frações com nome?
Arrisco uma resposta. Porque somos carentes de sabedoria. O tempo passa com uma força que nada ou ninguém pode detê-lo. Minucioso e implacável. Aconteça o que acontecer. Mas nós não podemos aceitar que ele passe sem sentido, sem significar algo. Que ele venha sem que nós possamos esperar um futuro melhor. Que ele passe e nós não possamos nos despedir do que foi ruim. Que ele siga em frente e nós fiquemos com as mãos vazias, ou será com a alma vazia?
Há duas maneiras de dar significado ao tempo. Uma é iludi-lo. Tentar passar a perna no tempo. Tentamos trapacear o tempo quando fingimos que o passado não foi importante. Vejo isso acontecer quando alguém sugere renunciar o passado ou simplesmente esquecer tudo e seguir em frente. Quem tenta trapacear empurrando para debaixo do tapete o que passou, descobre tarde que o passado tem o poder de estar sempre e amargamente presente quando não é assumido. Outra forma de tentar trapacear o tempo é o otimismo ingênuo. A partir de agora tudo será bom, tudo dará certo! Basta ter fé. Basta acreditar e tudo será um céu de brigadeiro e um mar de almirante! Não demora muito e se descobre que tudo envelhece rápido e os problemas não tratados se repetem como em uma ladainha. Não adianta ter fé, ser otimista se as causas dos problemas e vícios não forem enfrentadas.
A sabedoria não chama de belo o que foi feio, nem finge que o mal não aconteceu. Também não se engana com o futuro. Sabe que a vida continua sendo uma mistura de aflição e prazer. Que há coisas que melhoram e coisas que pioram. Mas não se rende a um conformismo suicida. Olha para o que passou e aprende. Olha para o futuro como um tempo não definido e toma as decisões que importam.