segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Mãe.



No bosque, piso trilhas nunca viajadas,

No mar, desapareço nos escuros tenebrosos;

Na relva, canso nos verdes indiferentes;

No regaço teu, dormi seguro, minha mãe.


Se eu pudesse
 
te presentearia com o sofrer que me forjou um homem.

Quando a gente ama, pensa sempre que, se pudesse,
o mundo seria só nosso.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Bom dia, vida!



Vem tristeza que me abraça
e me desencanta.
Vem e sacia o meu peito
de tua mórbida água.

Vem choro que me engasga
a alma e me deixa calado.
Vem e rebenta o que me
prende de falar e gritar.

Vem e deixa que as alegrias
se contradigam entre si.
Vem e deixa que os impasses
se resolvam.

Assim, vivendo minha dor
Chorando minha saudade.
Deixo de viver um passado
que já não existe.
Vivo já e espero
que daqui a pouco eu diga,
Bom dia, vida!

As mentiras, ao contrário do que se apregoa, não são todas iguais.


As mentiras, ao contrário do que se apregoa, não são todas iguais.
Existem mentiras inescrupulosas, malvadas, perniciosas, pecaminosas; mas e as outras?

Não há como condenar um pai, que mesmo ansioso por um descanso,
finge-se disposto e vai brincar com os filhos.

Quem poderia acusar a mãe que lê uma historinha e faz de conta que acredita em fadas?

Que tal as mentiras poéticas? Os mais exímios mentirosos são os poetas.
Eles sabem transformar sentimentos banais em amor inflamado;
tingem as palavras com adjetivos e realçam as paixões;
inflamam os romances; fomentam os chamegos; adensam os carinhos.
 
Na poesia o amante faz-se escravo e a amada, rainha.
O poeta é um fingidor, mas nem sempre se dá conta que a sua malícia enriquece a vida.

Porém, não há como negar: a humanidade não sobreviveria sem o recurso da mentira.

Portanto, menos farisaísmo, por favor!

Fome de alegria.


Alegria é minúscula pepita descoberta após um vendaval. 

Alegria nasce de instantes de pouca duração que arrepiam; de clarões que marcam a retina de emoções; de toques que deixam a alma ferrada com tintas do amor.

Alegria é elétron que irradia energia pelo corpo. 

Alegria é produzida por dínamos imperceptíveis. Bastam cores, aromas, gostos e o choro fica suplantado. Lágrimas sorrateiras secam com o riso humilde. 

Alegria serve de torniquete para estancar a sangria que desperdiça felicidade.

Alegria é implante divino. O Espírito se derrama na casa enlutada e faz da memória dolorida motivo para um sorriso leve. A viúva consegue transformar o espelho do quarto em retrovisor. Na noite escura, enxerga o rosto feliz do amado que se foi, e transforma a saudade mais trágica em vontade de viver.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Fé.

A fé e o querer nos sustentam durante aqueles períodos de escuridão e de incerteza. A vida pode ser difícil e pode haver ocasiões em que ela não faz o menor sentido. Estes são momentos que exigem fé e querer.

Em todos os momentos, você está escolhendo se alinhar com o seu verdadeiro caminho ou se afastar dele, não existem ações neutras. Mesmo o menor dos gestos tem uma direção própria, conduzindo você para mais perto ou para mais longe de seu caminho, quer você dê conta disso ou não.

Quero transformar as energias da minha tristeza numa bela obstinação; não vou desperdiçar o que me foi dado pela Graça.

Quero aproximar mais meu coração da poesia; serei cuidadoso com quem trata a vida com doçura.

Quero encarar a ameaça anônima como um aviso; que Deus me ajude a nunca tratar meu Próximo com desdém.

Quero transformar meu pranto em dança; vou manter-me leve, mesmo que tropece em meus cadarços.

Quero procurar Deus entre os esfarrapados, os excluídos e os nus; abandonarei a busca de Sua presença nos catecismos e doutrinas sistemáticas.

Quero caminhar sem grandes pretensões; optarei pela estrada menos trilhada.

Quero acolher o momento fugaz com zelo dobrado; viverei meus últimos anos com uma nova intensidade

"A vida é rara, tão rara!".

Ser Pai..... Waldemar Rezende


Se o trato diário com amigos e colegas já exige uma boa dose de atenção, compreensão e respeito, o bom convívio entre pais e filhos exige mais ainda. A intimidade e o contato constante entre membros de uma mesma família acalma e acalenta a relação.
Ser pai é um eterno aprender. O importante é ter sabedoria e coragem para superar as dificuldades e tentar melhorar. É acreditar na própria capacidade e amadurecer de uma forma sincera. É formar-se como pessoa, saber apreciar novos encontros e relações. É ser humano, compreendendo os limites que a vida nos coloca, mas nunca fugindo das oportunidades que ela nos traz.

Ser pai não é fácil, principalmente diante da vigilância de uma sociedade  que cobra estabilidade e perfeição de um personagem que é, essencialmente humano.

Consciente de meus pecados, inadequações e imaturidades, desejo crescer. 

Entendo que os meus maiores inimigos moram dentro de mim. Mas sei também que a possibilidade de humanizar-me depende da capacidade de reconhecer a beleza do meu interior. Se demônios me aterrorizam com vícios, anjos me incentivam com virtude. E nessa maré, que sobe e desce, avanço rumo à vocação de ficar parecido com meu querido pai Waldemar Rezende.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Tempo.


Como é estranho perceber que o tempo voou mais rápido do que os
pensamentos e produziu mais estragos do que a imaginação.

Como é estranho querer peregrinar pelo passado, não para consertar malfeitos,
mas para rever pessoas.

Como é estranho sentir saudades sem saber bem do quê; inquieto-me com o
presente a rodopiar feito um tornado, precipitando a vida rumo ao momento
derradeiro, quando todas as saudades se tornarão verdadeiras.

Como é estranho olhar ao redor e saber que tenho tão poucos amigos.
Antigamente, esperava em cada encontro uma promessa de amizade, em cada
aperto de mão uma fidelidade, em cada sorriso uma aliança. Hoje convivo com
a tristeza de saber que muitos estavam próximos por utilitarismo.

Como é estranho ver as certezas ruirem. Tantas convicções se esfarinharam
diante da dureza do sofrimento humano que, hoje meu único dogma é o amor.
Minha única sede é me humanizar e meu único alvo, não perder a alma.
Como é estranho, de repende, ver a vida com estranheza. Venho me tornando
um homem muito esquisito em um mundo que já se acostumou a não achar
nada muito estranho.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Lembra-te.



Lembra-te das mães que amamentam suas crianças especiais, elas nos ensinam o amor mais verdadeiro;

Lembra-te das mães que esperam, domingo pela madrugada, nas calçadas das penitenciárias, a oportunidade de beijar os filhos encarcerados, elas nos ensinam que todo amor faz sofrer;

Lembra-te das mães que, sem dormir, aguardam seu filho chegar, elas demonstram que zelo nasce do querer bem;

Lembra-te das mães abandonadas pelos maridos, nelas está o eliminar pelo ódio ou o curar pela doçura;

Lembra-te das mães solteiras na hora em que estão parindo, delas jorra o antídoto que enfraquece a culpa;

Lembra-te das mães que agasalham seus filhos com jornais em calçadas urbanas, nelas o amor se transforma em teimosia;

Lembra-te das mães que acabaram de enterrar seus filhos, delas se ouve o lamento mais dolorido e com elas ninguém esquece que é pó;

Minha prece por todas elas.

Não basta a canção, é preciso inspirar o espiríto.



Não basta o abraço, é preciso apertar o corpo.

Não basta o beijo, é preciso lambuzar o rosto.

Não basta o riso, é preciso comunicar alegria.

Não basta a companhia, é preciso criar sintonia.

Não basta a canção, é preciso inspirar o espírito.

Não basta o sono, é preciso não perceber a noite passar.

Não basta a oração, é preciso transcender no ministério.

Não basta a luta, é preciso nobreza no ideal.

Não basta a sinceridade, é preciso fazer parceria com a verdade.

Não basta o existir, é preciso viver.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Redesenhar minhas ações.



Conheço muita gente que diz ser grata por tudo que tem.  Pois bem, há infinitas oportunidades de ajudar ao próximo. Há muitas pessoas por aí para que derramemos nossos cuidados aos seus pés. São os que têm fome, os que estão doentes, os que estão presos, os marginalizados. São também aquelas pessoas que precisam de uma ajuda para conseguir uma profissionalização, uma orientação jurídica, uma consulta médica. São aqueles que precisam de um momento de descontração no meio de uma implacável vida de pobreza. São crianças que estão num abrigo.

Se amamos as pessoas de verdade, está na hora de expressar nosso amor através do cuidado. Por outro lado, se desprezarmos aqueles que precisam e a quem podemos ajudar, não é só a eles que desprezamos, mas também a Deus quando dizemos que amamos.

É aí que fico pensando se Jesus mentiu, ou me ensinaram errado, ou não entendi nada. Porque Jesus disse bem claramente como é que seríamos reconhecidos como seus filhos. Num tom bastante informal, momentos antes de iniciar sua paixão, ele fala aos seus seguidores: “Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (João 13.34-35). Pronto, não é com uma aparência austera, ou seguindo à risca um conjunto de ritos e credos, ou gritando pelas ruas que o Brasil é de Jesus, mas amando uns aos outros, como ele nos amou.

É claro que é mais conveniente pregar que a rigidez dogmática ou a austeridade comportamental é que faz um filho de Deus, porque isso aprisiona as pessoas e as torna manipuláveis. Nem todos estão dispostos a isso, porque preferem a exclusão ao acolhimento que só um amor semelhante ao de Jesus é capaz de promover. É bom lembrar que ele tanto amou que entregou sua vida por todos. Repito, por todos, sem distinção. Acho que Jesus não mentiu. Também acho que começo a entender o que ele disse. Mas ainda estou apenas no início de uma longa jornada.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Verdade que não interpreta é mentirosa.


Somos todos seres de interpretação. Uma vaca não interpreta, apenas reage. Uma pessoa não reage apenas, interpreta. Não há possibilidade de haver uma ação humana sem que também aconteça uma interpretação. Uma verdade nunca está do lado de lá pronta para ser possuída. Toda apreensão de idéias é um movimento impreciso e participativo de interpretação.
Não somos gavetas que guardam verdades, mas a coleção de narrativas e dissertações.

O que chamamos de verdade é uma miragem. Porque não há possibilidade de existir um conteúdo de afirmações atemporal e universal. Ao entrar em contato com uma afirmação coloco em movimento todos os preconceitos, tradições, sentimentos, aspirações do meu tempo, questões da minha época, tudo o que em mim participa do modo como interpreto a vida e as pessoas à minha volta. A verdade é relativa a mim, e tudo o que em mim participa do que compreendo. A verdade é necessariamente provisória. Está sempre em construção.

O que chamo de verdadeiro não é um bloco maciço de idéias, mas um corpo inacabado e dinâmico de perspectivas. As verdades humanas nunca são absolutas, são sempre finitas. Qualquer outra candidata à verdade que se pretenda completa, universal e insuperável pelo tempo fala uma língua incompreensível à mente humana. Nada comunica. Não nos diz respeito. Nem dela podemos fazer referência. Se nos referimos a uma idéia, interpretamos.

Isso significa que sempre que alguém arroga para si a posse de uma verdade absoluta está de fato absolutizando uma versão, a que prefere os interesses de quem está acomodado ao que prevalece em seu mundo. A história não deixa dúvidas sobre os absurdos já cometidos em nome da posse inquestionável da verdade. Mas certamente o maior dos absurdos é a desumanização de todos que entram em contato com tal pretensão. Na medida em que uma idéia é absolutizada, as pessoas são pulverizadas. Quem sai em defesa da posse da verdade perde o outro de si mesmo, ou seja, a sua própria consciência e suas reivindicações por novas respostas. Perde também o outro além de si, ou seja, tudo e todos ao seu redor que divergem em busca do diálogo.

Quem quiser encontrar a verdade e não perder a si mesmo e aos outros sob a prepotência de posse absoluta da verdade precisará ir além do que está escrito. Precisará abrir-se para fundir horizontes. 

Precisará de modéstia para as alteridades envolvidas na vida precisará de compromisso com o seu mundo e suas dores. Precisará de imaginação e delicadeza.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Inferno


Quando me perguntam se acredito no inferno, respondo que não, não acredito. Eu o conheço! Sei que existe. Eu o vejo ao meu redor. Inferno é a sorte de crianças que vivem nos lixões brasileiros. Inferno é o corredor do hospital público na periferia do Rio de Janeiro. Inferno é o campo de exilados em Darfur. Inferno é a vida de meninas que os pais venderam para a prostituição. Inferno é o asilo no Brasil, que não passa de um depósito onde os velhos esperam a morte.

Um dia, aceitei a vocação de lutar contra esses infernos que me rodeiam, assustam e afrontam. Ensinei e continuo a ensinar que Deus interpela homens e mulheres para que lutem contra suas labaredas. E passados tantos anos, a minha resposta continua a mesma: “Eis-me aqui, envia-me a mim”.

Acordo todos os dias pensando em acabar com os infernos. Gasto a minha vida para devolver esperança aos culpados; oferecer o ombro aos que tentam se reconstruir; usar o dom da oratória para que os discriminados se considerem dignos. Luto para transformar a minha escrita em semente que germina bondade em pessoas gripadas de ódio. Dedico-me ao estudo porque quero invocar o testemunho da história e mostrar aos mansos que só eles herdarão a terra onde paz e justiça se beijarão.

O que dizer de Deus? Tão pouco! Calado, só espero que o meu espanto celebre o tamanho da minha reverência.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O coração na condição de verdadeiro ser



Querido amigo,

Desejo caminhar ao seu lado. Não procuro criar um relacionamento unilateral, hierarquizado, em que eu ensino e você aprende . Pretendo intuir as suas dúvidas e perceber, a partir de nosso convívio, dilemas que tenham sido comuns a mim.

Falemos de literatura, uma área em que sou leigo, mas um apaixonado.

Portanto, meu primeiro conselho é simples: leia. Faça da leitura primeiramente uma disciplina; só depois de um tempo de trabalho árduo, você vai gostar e desfrutar de um bom livro.


Aprenda a apreciar música com letras ricas em nuances de aliteração, rimas e metáforas.

Faça a sua teologia, construa a sua percepção. Leia a Bíblia com os olhos de um cidadão do mundo que percebe as angústias, paradoxos e desesperos da humanidade. Quando estudar os clássicos da teologia, sinta-se com liberdade de questionar os seus pressupostos. 

Para não enrijecer dentro de uma dogmática intolerante, coloque a vida, a riqueza da arte e beleza da criatividade no seu estudo. Não permita que a sua teologia fique presa na torre de marfim dos sectários.

E o Saulo Continua...

"Estou realmente cansado do chão, de toda poeira imunda provei, até que me bastasse de lágrimas,  me contorci até  que os ossos  se fatigassem, estremeci e apertei os dentes até minhas veias saltarem, urrando como um animal ferido  me perguntado o por que das coisas, do que me adianta? Não escolho, a vida leva, e a gente ainda acredita que se pode fazer alguma coisa. Amar, como se ama pela primeira vez, acreditar, acreditar que talvez a vida conspire a seu favor, que espirre um vento um tanto forte e te arraste de uma vez por todas e te ensine a se manter preso ao que realmente é importante, ao que realmente valha a pena e lhe de segurança".

O Saulo é coerente em suas palavras, que se faz verdadeiro, gritando com as letras, clamando com as frases, pondo o seu ser no escrever.

A amizade sopra e nos cura, e nos reconstrói pela capacidade de abertura, pelo dialogo de corações, pela coragem do dizer.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Não existem monstros ou santos.


Gosto de escrever num caminho-pensar-existêncial que seja, inclusive no estilo, uma peregrinação livre de meu ser, e que sempre misture o pensar, o sentir, o saber, o dia, a noite e os ambientes que me cercam, gerando o ato de expressar, conforme as pulsões do momento. Ter liberdade de montar a minha própria lingua, não só para dizer o que quero, mas principalmente, como quero.

Todos somos flamas oscilantes. Carregamos sombras na alma. Não passamos da combinação ingênua de noviços, ineptos em abraçar o bem, e de bandoleiros, hesitantes na prática do mal. 

Viver consiste no desafio de alargar o coração e deixar que réstias de luz iluminem as nossas sombras. Não permitamos que trevas se alastrem dentro da gente.

No alto da colina da ilha chamada vida, sejamos lanterneiros, sempre a projetar nosso farol na direção de algum viajante perdido. 

Não há códigos suficientes que abarquem todas as nuanças da vida. Crescemos quando nos abrimos para uma coexistência inclusiva, sem preconceitos e sem ódios. Viver é amadurecer a arte do diálogo. Ao caminharmos na senda do amor, reconheceremos Deus no rosto do próximo.

Reconheçamos que cada indivíduo é um universo; suas relações sociais são infinitas. Não tentemos imobilizar a dinâmica da cultura ou da ética. Bem e mal se transformam velozmente. A tarefa de joeirar virtude e vício é complexa.

Humanidade é obra que só pertence a nós, os humanos. Então, que se abandone a ideia de que o bem ressurgirá da ganância, do consumismo, do individualismo e da soberba.

Ergamos a nossa humanidade sempre cientes de nossa pequenez. Sem a soberba dos falsos campeões, celebremos cada encontro. Valorizemos quem amamos. Acolhamos os discriminados, os deficientes, os esquecidos. 

Contemplemos a história como artesãos que limam o ouro. Defendamos o direito, demos as mãos ao pobre e aguardemos: breve brilhará o sol da justiça, trazendo cura sob suas asas. 



sábado, 1 de janeiro de 2011

Pulsar do Tempo.


O melhor e mais importante de nossa história resulta dos planos que não
deram certo. E esta é a descoberta que nos atordoa e redime.

Em um mundo de liberdades, o incerto e o imprevisível criam o espaço
mais doloroso, e mais rico. Naquilo em que nos tornamos, somos
desenhados, com uma freqüência surpreendente, pelas linhas oblíquas de
nossos projetos frustrados.

Despeço-me de 2010 como quem vira a página de um capítulo tenso em um
belo romance. Espero do próximo uma narrativa mais leve e feliz.

Num mundo como este os nossos olhos vão ficando cada vez mais cegos
para as coisas mais modestas, para a vida que acontece também no
anonimato.

Desejo a todos um bom ano e uma vida que valorize as pequenas alegrias;
olhos que percebam o anônimo e o invisível; colo que abrace os que
fracassaram; lábios que beijem o pecador; coração que acolha não a
árvore da religião, mas a semente do Reino.

Numa terra de poderosos vou dar as mãos ao fraco; num mundo de deuses
vou abraçar o humano; num país de gente grande vou ninar os queridos e simples amigos.