terça-feira, 5 de abril de 2011

O último olhar.


Enquanto vivemos, precisamos aprender a colecionar pequenas coragens para poder enfrentar a vida. Resta-nos seguir querendo bem, promovendo a paz e semeando a justiça, pois qualquer dia, de um só golpe, deixaremos de ser o que somos para nos transformar numa outra coisa.

O último olhar de minha mãe foi frágil e suplicante, cheio de pavor. Tomada pelo câncer, desesperada porque lhe faltava fôlego e sabendo que as garras da morte lhe apertavam a garganta, partiu deixando aquela derradeira imagem que me persegue. Acredito até que a cena esteja cauterizada em minha retina, pois todas as vezes que fecho os olhos, ela volta tão nítida como naquela madrugada.

Impotente, e também apavorado, nada pude fazer quando o médico entrou na Unidade de Tratamento Intensivo, nos separando para sempre. Mas seu último olhar, mudou minha percepção da vida.

Como eu poderia ajuda-la?

Eu precisaria ter poder para ordenar que o cancêr se comportasse; teria que trazer em minha aljava a porção da imortalidade.

Naquele momento trágico, eu era apenas seu filho, ainda mais impotente e mais amedrontado do que ela mesma. O último olhar de minha mãe me trouxe pânico; e diante da hora mais crucial, na travessia, que separa o tempo da eternidade, eu aprendi uma grande lição.

Este testemunho dou-o aos humildes. Falo aos corações sinceros e aos homens bons. Hoje sou peregrino nas mãos poderosas de Deus, para consolar os tristes  e enxugar o pranto aos que choram. Isto me basta!

O problema do mundo moderno é o fantasma da solidão, que se instalou no coração e na vida dos homens.

Uns se entregam à bebida. Outros dormem. Falam uns. Meditam outros. Alguns riem, enquanto outros parecem que choram.

Pouca importa que vivam juntos, comam juntos, bebam juntos e durmam juntos. O que ressalta e se torna evidente em tudo e em todos, é a grande solidão.

Pais, filhos, esposos, patrões, empregados, sócios, amigos, companheiros e irmãos aparentemente vivem juntos, mas efetivamente separados e definitivamente isolados uns dos outros.

A ausência de Deus seca as fontes do amor, apaga a chama da fé, quebra o fio da esperança, rouba o entusiasmo e lança o homem na grande solidão.

Passado não existe mais, e o futuro ainda não existe. Mas de tanto lamentar o passado, acabamos por perder a única vida que vale ser vivida, a que depende do aqui e do agora, e que não sabemos amar como certamente merece.

Querida mãe
pensar em amor
é pensar em você.
Por isso é que enfim, eu tomei para mim
A responsabilidade de dizer

O SEU ÚLTIMO OLHAR MARCOU E MUDOU MINHA VIDA!