A distância que vai entre a janela e os meus olhos determina o que vejo lá fora na rua. Se fico mais perto, a visão se alarga; se fico de longe, a visão se estreita. Se vou à esquerda, enxergo a praça; se vou à direita, enxergo a torre. Sou eu que determino o que aparece lá fora na rua para servir de panorama aos meus olhos.
Mas nem por isso é falso ou errado aquilo que vejo ou descrevo, pois não sou eu que crio as coisas que aparecem lá fora. Já existiam antes de mim. Não dependem de mim. É útil e até necessário que cada um defina bem clara e honestamente aquilo que vê pela sua janela. Isso redundará em benefício da análise que se faz da realidade da vida.
O que me consola é que todos somos assim. Bem limitados e condicionados pelos próprios olhos, dependentes uns dos outros. È trocando as experiências, numa conversa franca e humilde, que nos ajudamos a enxergar melhor as coisas que vemos, e a romper as barreiras que nos separam sem razão. Pois ninguém é dono da verdade.
Cansei de varrer angústia para debaixo do tapete. Não me incomoda mais o julgamento impiedoso e implacável dos que sobrevivem de certezas. Não estou disposto a repetir velhas fórmulas que não me fazem sentido nem oferecem abrigo para as almas amarrotadas pela dor. Não suporto mais a solidariedade das palavras vazias dos religiosos e da teologia mais ocupada em defender Deus do que em amar o próximo.
Não temo o caminho. A noite escura do silêncio e das dúvidas da alma não me apavora mais do que a infertilidade dos dogmas do dia claro. Tenho certeza de que minha trilha é percurso de vida. E tenho boas razões para crer assim.
Não me importo em descobrir que minha verdade é uma mentira. Mais jamais me relacionaria com você baseado em algo que para mim seja mentira somente porque para você é verdade.
Caso se importe, fique tranquilo. Creio na graça de Deus, que me interpela e me encontra. E creio que o caminho mais curto para a verdade verdadeira é a admissão de minhas verdades relativas.