Fernando Pessoa nos lembra:
(...)
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade como a felicidade.
(...)
Eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
O que é preciso é ser natural e calmo
Na felicidade como na infelicidade.
Às vezes a vida não economiza sofrimento. Eu sei que o caminho da vida não é sempre linear. Na estrada da vida há também curvas, buracos, falta de sinalização. Há também a solidão que se eleva ao extremo nas "noites escuras da alma".
Às vezes regredimos a algo que pensávamos já haver superado. São momentos em que o peso da memória nos detém. Às vezes um simples cheiro, um som, uma música, uma cor, uma palavra, um jeito, um lugar, uma data nos arremessa ao passado. Outras vezes, ficamos num mecanismo de repetição de atos, até tomarmos consciência de que, enquanto não aceitarmos os acontecimentos da vida, enquanto não nos reconciliarmos com o nosso passado, não conseguiremos ir mais longe.
Não podemos ser pessoas que têm medo de enfrentar mudanças, mesmo que elas signifiquem possibilidade de uma vida melhor e mais verdadeira.
Romper é, pois, arriscar-se a descobrir o desconhecido. E essa experiência nos traz muita insegurnça. Não há segurança senão no previsível, que pode significar mentir para si mesmo. Mudar é mais que um ato. É uma atitude e um processo. Mudar torna as pessoas autênticas. E nós não temos nenhum poder sobre uma pessoa autêntica, que é honesta consigo mesma. Ninguém a fará tremer diante da verdade, pois ela é verdadeira. Entretanto, se uma pessoa mente para si mesma, ela temerá diante de certas situações.
Não é preciso sofrer para se tornar um ser humano melhor, mais digno. Pode-se amadurecer, crescer e transformar-se também na alegria, na felicidade e no amor. Não podemos cultuar o sofrimento, assim como não podemos cultuar o prazer. Há de se aprender com os dois. O ideal de homem perfeito não existe. Haveremos, sim, de ser grandes o suficiente para nos perceber finitos, mortais - apenas humanos.
A obra de Deus em nosso ser é, portanto, permanente e constante. Não chegará o dia aqui na terra em que diremos orgulhosamente, estamos prontos, estamos completos.
" Haverá sempre uma falta no ser humano". Freud.
Se temos isso, logo iremos querer aquilo, numa comprovação contundente de quão insaciável é a nossa alma. Por isso a obra de Deus em nossa vida é sempre atualizada. É contida e incontida, mensurável e imensurável, real e jamais simbólica, cheia de evidência e de mistério.
Por isso, gostaria de convidá-lo a algumas simples, porém significativas reflexões sobre a necessidade de sermos autênticos.
Onde você estiver agora, procure aquietar-se, desacelerar as batidas do seu coração... Acomode-se. Silencie seus barulhos interiores... Pare um instante. Ouça o que talvez você mesmo tenha a se dizer já há algum tempo.
Deus nos faz pensar e sonhar. Pensar e talvez, até mesmo chorar pelo que somos, e então, sonhar com o que poderemos vir a ser.
A vida é um tecido cuja a matéria prima é composta de atitudes. Ninguém muda de atitude sem a experiência do esforço. Se conseguirmos alterar nossas atitudes, naturalmente conseguimos também alterar a vida.
Porque tão importante quanto não fechar a porta para a mudança é não impedir, depois, a entrada das alegrias.