terça-feira, 7 de setembro de 2010

Crises.

Crises existem. De variados tipos. Em momentos diversos. Por razões diversas. Elas podem surgir a propósito de problemas. Problemas financeiros, de segurança, de comunicação; problemas afetivos e pessoais. Mas a crise vai além do problema. Pode nascer com ele. Mas toma uma dimensão maoir. 
A crise é uma escuridão no viver.
A pessoa vê tudo escuro, a vida fica sem sentido, falta alguma coisa, e alguma coisa de essencial.
Crise é alguma coisa muito diferente de um problema. É um encontro com uma situação que faz parte do humano viver. A crise é um abrir os olhos para a condição humana. Muitas vezes são os problemas que nos forçam a isso. Mas nem sempre.
Os problemas têm solução. Mas a condição humana tem coisas que não tem solução.
A crise é uma tomada de conciência. Aguda. Que divide o antes e o depois. Não se trata de achar uma solução. Trata-se mais de assumir, de maneira nova, e com isso encontrar um sentido. Ou de um voltar para trás e se esconder.
Crise é um passo. Uma passagem.
Não é um episódio externo. Mas alguma coisa acontece dentro da gente, no nosso intímo.
Tenho aprendido por exemplo, a procurar amigos na hora da crise que dão sentido à nossa vida. Os amigos, assim como muitos de nossos valores, são impenhoráveis, inegociáveis. Ao contrário que muitos pensam, nossa missão nesta vida precisa transcender a dimensão relacional. Somos filhos da cultura pragmática. Procuramos utilidade em tudo, e acabamos procurando amigos como quem compra utensílios domésticos - "este serve, aquele não"; " este é bonito, aquele é feio"; ou "para este, há perdão; para aquele, não". isto é desastroso.
O amor sempre foi uma das questões básicas do ser humano e um dos seus maiores desejos. O amor tem o poder para suprimir nossas crises. 

" O medo de amar é o medo de ser". 
Beto Guedes.
" Você não tem medo de mim,
  Você tem medo é de você.
  Você tem medo é do amor".
Adriana Calcanhoto.

Não obstante a complexidade que envolve os relacionamentos - seja em que dimensão for -, amar ainda é a única forma de realização humana.
Por que fugimos quando estamos em crise? Por que nos fechamos e nos calamos, desejando falar? Por que nos afastamos e nos congelamos, queimando de vontade de abraçar? A crise pessoal é dupla: medo de ser conhecido e de conhecer-se. Estabelecemos barreiras invisíveis, que pensamos nos proteger, mas que acabam nos impedindo de amar.
Não conseguimos nos doar, confiar, pois estamos em crise para sermos ímtimos do outro. Vivemos em estado de tensão entre a necessidade de nos revelarmos e a necessidade de nos encobrirmos. Nossos escudos e máscaras podem ser uma conversinha fácil e superficial, ou mesmo a erudição, que podem se tornar barreiras intransponíveis para a intimidade.
Nossa real necessidade na crise é a de alguém que nos ouça, não por obrigação, nem com pressa ou com respostas prontas, preconceitos ou experiências que deram certo, mas com a alma. Precisamos de alguém que nos aceite como somos. È preciso coragem e autenticidade para expressarmos nossos sentimentos, especialmente aqueles considerados negativos, como indignação, a ira e a frustração.
Assim, somos convidados a correr riscos de nos abrirmos em intimidade, bem como a considerar a possibilidade de construirmos um caminho de relacionamentos mais saudáveis e uma espiritualidade mais plena para sair da crise.